Sou Fortaleza

OPINIÃO: A complexa questão das brigas entre torcidas organizadas

Foto: Kid Júnior

As duas principais torcidas organizadas do Fortaleza vivem uma crise entre si, muitas vezes com confrontos ou ameaças nas arquibancadas. Diante disso, levanta-se o seguinte questionamento: como resolver isso? Desde muito tempo atrás, vemos cenas de violência nos estádios e nos arredores e sempre ouvimos o mesmo discurso de lamentação, caça às organizadas e até comparações desmedidas com a o futebol da Europa.

A comparação com o futebol inglês, que deu fim à violência física nos estádios é injusta, desmedida e fora da realidade. A taxa de homicídios no Brasil é 68 vezes maior do que no país britânico e a população brasileira também é quatro vezes mais volumosa. Além disso, apesar da violência física não estar mais tão presente nos estádios das principais ligas europeias, ainda existem confrontos em estações de metrô e inúmeros insultos raciais na Europa, em uma grande proporção.

Torcidas rivais do Tottenham, por exemplo, fazem menções e provocações antissemitas contra o clube de Londres, que conta com um grande número de torcedores judeus. No entanto, o antissemitismo não nasce no futebol. Aliás, a extrema-direita e o movimento neonazista cresceram consideravelmente nos últimos anos.

A violência entre jovens, em sua maioria periféricos, não é algo exclusivo do futebol. As pessoas se chocam e indagam: “Como pessoas que torcem para um mesmo clube podem brigar entre si?”, eu pergunto: “Como jovens que sofrem tanta opressão do Estado e elite do pais podem se matar por simplesmente serem de bairros diferentes?”.

O problema não é só entre TUF e JGT, é muito maior do que isso. Existem subdivisões nas torcidas organizadas, os famosos “bondes” aliados e inimigos. O torcedor que ignora as questões da periferia em seu cotidiano fica abismado quando vai ao estádio e se depara com cenas de violência que, muitas vezes, são comuns para quem vive na margem da sociedade.

Mesmo assim, criminalizar torcidas organizadas é burrice. Sem organizada, não tem mosaico, não tem música e não tem estádio. A cultura de arquibancada pode até ser considerada, muitas vezes, violenta, mas isso é apenas um reflexo da sociedade. Pagar ingresso na Premium ou nos camarotes não vai te impedir de ver a realidade. A violência nos estádios causa mais indignação por ser mais difícil de ignorar.

A opinião de um artigo assinado não reflete necessariamente a opinião do site, é o ponto de vista exclusivo do autor que elaborou o artigo.