OPINIÃO: A mudança de prateleira

Num mundo de Kindles, as estantes cheias de livros parecem algo como um objeto de museu. Semanas atrás, deparei-me com um destes móveis na casa da jornalista Karine Nascimento, amiga de minha amada namorada, a companheira de profissão Karoline Tavares. Quando olhou para a prateleira e viu o livro “Passa a Bola Para Elas”, de sua própria autoria, afirmou: “Amiga, meu livro está na mesma prateleira que o seu, lá em casa deixo sempre assim!”.

A verdade é que fazia sentido, de uma perspectiva sentimental, que os dois livros estivessem juntos. No entanto, fazia ainda mais sentido que ambos figurassem ali, pois se tratam de obras sobre o futebol feminino e escritas por jovens jornalistas cearenses.

Fortaleza e Palmeiras podem ocupar a mesma prateleira nos sentimentos dos torcedores, que consideram os dois clubes como os maiores do país, mas, na realidade, as equipes ainda ocupam patamares diferentes em relação a peso de marca. Enquanto o Leão sofre com longos deslocamentos para jogar nos diferentes estados do Brasil, muitas vezes em voos comerciais, cheios de conexões, o Palmeiras tem um avião particular.

Apesar do Fortaleza ter em suas mãos o maior orçamento da história do clube, a distância ainda é considerável no que diz respeito a folha salarial e elenco. Entretanto, futebol se faz através de um jogo de 90 minutos mais acréscimos. Vencer amanhã coloca o Tricolor do Pici na prateleira mais próxima possível do time comandado pelo técnico Abel Ferreira.

O jogo e a distância são grandes, mas em outros tempos, as prateleiras já estiveram uma para a outra como se fossem um “José Saramago” diante de uma autoajuda qualquer. Hoje, o Palmeiras ainda é do tamanho e magnitude do autor português, mas o Leão tem se apresentado tão grande quanto algo escrito pelo autor argentino Jose Luís Borges. No jogo em que as prateleiras mudam, esperamos que o Leão seja como um “Best Seller“.